Tradução Brasileira - S.I.I.
O Tao te Ching (também escrito Dao de Jing, que é mais próximo à pronúncia chinesa) é um dos grandes clássicos da literatura oriental. Livro de imensa antiguidade e sabedoria, é tradicionalmente atribuído a Lao Tsé, um sábio que viveu ao redor do século XII A.C.
Seu título significa literalmente “O Livro (Jing) do Caminho (Dao) e da Virtude (De).” Ele é organizado de forma poética, em versos que são subdivididos em 81 capítulos. Não tem uma ordem específica ou progressiva, podendo ser lido a partir de qualquer ponto.
É uma leitura excelente e iluminadora. Dentro destes versos encontra-se um manual para viver uma vida mais plena, em harmonia com si mesmo, com os outros e com o ambiente ao redor, com paz interior e compaixão, sendo uma luz no mundo, seguindo sua própria força interior. Recomendamos fortemente!
Esta tradução é baseada tanto no texto original chinês como em traduções em inglês e em português. O intuito é ter uma tradução clara e simples, que seja fiel ao texto original e aos conceitos nele exprimidos. Muitas traduções são demasiado prolixas ou formais, ou caem no erro de expressar as visões do tradutor e não de Lao-Tsé. Esperamos evitar estes erros aqui. Boa leitura!
O caminho que se pode trilhar não é o verdadeiro Caminho. O nome que se pode nomear não é o verdadeiro Nome. Aquilo que não tem nome veio antes do Céu e da Terra. Aquilo que se nomeia é a mãe das dez-mil coisas.
Livre de desejo, você percebe o mistério. Apanhado pelo desejo, você vê apenas as manifestações.
No entanto, o mistério e as manifestações surgem da mesma fonte. Esta fonte é chamada Escuridão.
Escuridão das escuridões. Portal de todo entendimento.
O mundo inteiro reconhece a Beleza; e é justamente isso que gera a feiura. O mundo inteiro reconhece o que é Bom; e é justamente isso que gera o ruim.
Ser e não-ser nascem em conjunto. Difícil e fácil são complementares. Longo e curto se contrastam. Alto e baixo dependem um do outro. Antes e depois são consecutivos.
Portanto, o Sábio Age sem fazer nada, E ensina sem dizer nada. As dez-mil coisas surgem, e ele não rejeita nenhuma. Ele cria mas não possui, Atua mas não se apega, Realiza grandes obras e logo se esquece delas.
E justamente por esquecer-se delas, Elas duram para sempre.
Não exaltar grandes homens impede a inveja; Não estimar o que é valioso impede o roubo; Não exibir o que é maravilhoso impede a confusão do coração.
Portanto, o Sábio, ao governar as pessoas, Esvazia seus corações e enche seus estômagos, Enfraquece suas ambições mas fortalece seus ossos.
Ele ajuda as pessoas a perderem tudo que desejam, E cria confusão naqueles que pensam que sabem.
Pratique o não-fazer e tudo permanecerá em harmonia.
O Caminho é como um recipiente vazio: Ele é usado mas nunca se enche. Profundo! Misterioso! É como o ancestral das dez-mil coisas.
Suavize o afiado, Desate o emaranhado, Diminua seu brilho, Una-se ao pó.
Como é tranquilo! Eu não sei de onde ele vem. Parece que é anterior a Deus.
O Céu e a Terra são imparciais; Eles veem as dez-mil coisas como cães de palha. Os Sábios são imparciais, E veem as pessoas como cães de palha.
O espaço entre o céu e a terra é como um fole, Vazio, mas infinitamente capaz. Quanto mais se move, mais produz.
Quanto mais se fala, menos se diz. Fique próximo do centro.
O espírito do Vale nunca morre, É o mistério do feminino. Seu ventre é a raiz do Céu e da Terra.
Ininterrupto e perpétuo. Desfrute dele! Nunca falhará!
O Céu é eterno e a Terra duradoura. E por que o Céu e a Terra são eternos e duradouros? Por não viverem para si mesmos: Isto lhes faz durar eternamente.
Portanto, o Sábio, Ficando atrás, aparece em primeiro, Servindo aos outros, encontra-se satisfeito. E justamente por isso, ele realiza o que é seu.
A suprema virtude se assemelha à água.
Água, Que beneficia as dez-mil coisas sem disputar, Que flui nos lugares que os homens abominam, Por isso ela é próxima do Tao.
Em habitar: more perto da terra. Em meditar: se aprofunde no seu coração. Em generosidade: tenha amor e benevolência. Em fala: seja sincero. Em governar: seja justo. Em vida: seja competente. Em agir: saiba o momento correto.
Não dispute, e não haverá oposição.
Melhor parar de encher antes de transbordar. Melhor parar de afiar antes da lâmina cegar.
Uma sala cheia de maravilhas e tesouros: ninguém consegue protegê-la! Quando riqueza e honra levam à arrogância, Se gera a própria ruína!
Faça seu trabalho, e depois retire-se. Este é o Caminho do Céu.
Unindo corpo e alma num só abraço, Você consegue evitar a separação? Mantendo o sopro calmo e maleável, Você consegue ser como um bebê recém-nascido? Limpando e purificando a visão interior, Você consegue ser imáculo? Sem impor sua vontade própria, Você consegue amar e liderar o povo? Abrindo e fechando as portas do Céu, Você consegue ser como a mãe-pássaro? Mesmo compreendendo e recebendo todas as coisas, Você consegue permanecer sem conhecimento?
Suportando e nutrindo, Criando, mas não possuindo, Dando sem exigir, Liderando sem dominar, Isto é harmonia.
Trinta raios convergem num eixo; É pelo buraco que podemos usar a roda. Argila é moldada no formato de um copo; É pelo vazio que bebemos dele. Paredes são erguidas, com portas e janelas; A utilidade da casa está no seu vazio.
A vantagem vem daquilo que existe, Mas a utilidade vem do que não existe.
Cores demais cegam os olhos, Música demais ensurdece os ouvidos, Apetite demais entorpece o paladar, Brincadeira demais enlouquece a mente, Desejo demais rasga o coração.
Portanto, o Sábio, Se atenta à essência e não às aparências. Ele rejeita o segundo e escolhe o primeiro.
Aceite a desgraça voluntariamente. Aceite o infortúnio como a condição humana.
O que quero dizer com "aceitar a desgraça voluntariamente"? Aceite ser insignificante. Não se aflija com vitórias ou derrotas. Isto é aceitar a desgraça voluntariamente.
O que quero dizer com "aceitar o infortúnio como a condição humana"? A razão do infortúnio é termos um "eu" - Pois, sem um "eu", quem poderia se beneficiar ou perder?
Portanto, Quem se vê distinto do mundo pode recebê-lo, Mas quem se considera parte do mundo pode aceitá-lo.
Olhado, mas não visto – é chamado invisível; Escutado, mas não ouvido – é chamado inaudível; Abraçado, mas não possuído – é chamado impalpável; Estes três não podem ser explicados; Entrelaçados constituem um.
Em sua ascensão não há luz, Em sua queda não há escuridão, Estende-se infinitamente, sem poder ser nomeado, retornando sempre ao vazio. Sua forma sem-forma, Sua imagem nada; É chamado vago e indefinível. Ao encontrá-lo não se vê rosto; Ao segui-lo não se vê as costas.
Voltando ao Caminho antigo Podemos reger o presente E conhecer a origem da antiguidade –
A essência da Sabedoria.
Os antigos Mestres eram profundos e sutis, Com sabedoria penetrante, insondável. Não há como descrevê-los; Posso apenas descrever suas aparências.
Cautelosos! Como quem anda sobre gelo fino! Indecisos! Como quem teme inimigos dos quatro cantos! Reverentes! Como hóspedes! Evanescentes! Como o gelo que derrete! Genuínos! Como a lenha não trabalhada! Vazios! Como um vale entre montanhas! Opacos! Como a água turva!
Quem pode tornar clara a água turva por meio de tranquilidade? Quem pode tornar vivo o estagnado por meio da atividade?
Quem abraça este Caminho não busca a satisfação completa. E por não buscar a satisfação completa, pode renovar-se.
Esvazie-se completamente. Atinja a plenitude perfeita. O mundo florescerá e se moverá. Veja-o voltar ao repouso. Todas as coisas florescentes Retornarão à sua fonte.
Este retorno é sereno; É chamado retornar ao próprio destino; Isto é conhecer a eternidade. Conhecer a eternidade é chamado iluminação. Ignorar isto leva ao desastre.
Quem conhece a eternidade abraça a todos. Abraçando a todos, ele é imparcial. Sendo imparcial, ele torna-se nobre. Sendo nobre, ele é como o Céu. Sendo como o Céu, assemelha-se ao Tao.
O Tao é duradouro. Portanto, não há perigo na morte do corpo.
Quando o Sábio governa, o povo mal sabe que ele existe. Segundo melhor é um lider amado e elogiado; A seguir, um que é temido; O pior é aquele que é desprezado. Ele não tem fé no povo, E o povo não tem fé nele.
Quão cuidadosos são os grandes líderes ao falar, cientes do peso da sua palavra! Assim eles concluem seu trabalho; e ao final, O povo diz: “Incrível: conseguimos, e fizemos tudo sozinhos!”
Quando o grande Caminho é esquecido Aparecem a benevolência e a piedade; Nascem então moralidade e inteligência Junto com a hipocrisia.
Quando os laços familiares se rompem Fala-se de respeito e amor filial; Quando uma nação está em desordem Fala-se de lealdade e patriotismo.
Se pudéssemos descartar o conhecimento e a santidade O povo se beneficiaria cem vezes; Se pudéssemos descartar o dever e a justiça Formar-se-iam relações harmoniosas; Se pudéssemos descartar a engenhosidade e a ganância Então o roubo e o desperdício desapareceriam.
No entanto, tais medidas remediam apenas os sintomas; Deste modo são inadequadas.
Por isso deve-se seguir esta regência:
Revele sua interioridade nua e abrace sua natureza original; Diminua seu interesse próprio e acalme sua ambição; Esqueça os seus hábitos e simplifique a sua vida.
Pare de pensar, e ir-se-á a inquietação.
Qual a diferença entre sim e não? Qual a diferença entre sucesso e fracasso? Você precisa valorizar o que os outros valorizam, Evitar o que os outros evitam? Que ridículo!
As pessoas são radiantes Como se estivessem em uma grande festa, Ou brincando no parque na primavera; Mas eu sou tranquilo e sem desejos, Internamente feliz, Como um recém-nascido que não aprendeu a sorrir, Vagando, sem um verdadeiro lar.
Outras pessoas têm mais do que precisam; Só eu não possuo nada! Minha mente está vazia; Meu coração, nebuloso e opaco!
As pessoas são brilhantes e certeiras. Só eu vejo no escuro! As pessoas são espertas e racionais. Só eu não faço distinções! Ando à deriva, como uma onda sobre o oceano, Sem apegar-me a nada.
As pessoas são ocupadas e têm um propósito. Só eu sou tosco e teimoso! Sou diferente das outras pessoas: Eu me nutro da Grande Mãe.
A virtude consiste apenas em seguir inteiramente o Caminho. Mas a natureza do Caminho é elusiva e intangível.
Intangível e elusivo! Mas ele contém formas e imagens! Elusivo e intangível! Mas ele contém coisas e objetos! Obscuro e insondável! Mas ele contém a essência! A essência é real! E ela contém a verdade.
Desde a antiguidade até os dias de hoje, o seu nome nunca foi esquecido. Por meio disso eu percebo as numerosas coisas.
Mas como eu posso conhecer as numerosas coisas? Porque eu vejo.
Aceite para se manter inteiro. Curve-se para se tornar reto. Esvazie-se para poder se preencher. Desgaste-se para poder se renovar.
Quem tem pouco, receberá mais. Quem tem demais, torna-se confuso.
Assim, o Sábio abraça o Uno E torna-se modelo debaixo do céu.
Ele não se exibe, e por isso brilha. Ele não se afirma, e por isso torna-se distinto. Ele não se vangloria, e por isso é reconhecido. Ele não se enaltece, e por isso pode perdurar.
É justamente por ele não tentar competir com o mundo, que o mundo não consegue competir com ele.
Portanto os antigos diziam: "Aceite para se manter inteiro." Como poderiam ser estas palavras vazias? Uma vez inteiro, o mundo todo é como o seu lar.
Falar pouco é o natural.
Uma ventania não dura nem uma manhã inteira; Um temporal não dura nem um dia inteiro. Qual é a causa destes fenômenos? O Céu e a Terra! Se nem o Céu e a Terra podem ser constantes, Quão menos podem as pessoas!
Quem resolve seguir o Caminho se torna como o Caminho. Quem resolve seguir a Virtude se torna como a Virtude. Quem resolve seguir a Perdição se torna como a Perdição.
Quem é como o Caminho é abraçado pelo Caminho. Quem é como a Virtude é abraçado pela Virtude. Quem é como a Perdição é abraçado pela Perdição.
Deveras! Se tua fé for insuficiente, também receberás pouca fé.
Quem anda na ponta dos pés não anda firme. Quem se apressa ao avançar não mantém o passo. Quem se esforça para aparecer não brilha. Quem se afirma não se distingue. Quem se vangloria não tem mérito. Quem se enaltece não cresce nem perdura.
Tais comportamentos, frente ao Caminho, São como restos de comida, Carregam o sinal do excesso. São detestáveis; Quem segue o Caminho não os admite.
Há algo indefinido mas perfeito, Anterior à existência do Céu e da Terra.
Silencioso, vazio, Solitário e imutável, sem transformar-se; Circula e estende-se em tudo, Mas não põe nada em perigo, Portanto é como a mãe da Natureza.
Eu não conheço seu nome, mas chamo-o de Caminho. Forçado a nomeá-lo, chamo-o de Grande.
Sendo grande, ele flui, Fluindo, ele vai longe, E indo longe retorna para si mesmo.
Portanto, O Caminho é grande; O Céu é grande; A Terra é grande; E a humanidade é grande.
No Universo há quatro grandezas, e a humanidade é uma delas.
Pois a humanidade segue a Terra; A Terra segue o Céu; E o Céu segue o Caminho. O Caminho segue a si mesmo.
A seriedade é a raiz da leveza; A quietude é a mestra da agitação.
Portanto, um príncipe sábio, nos afazeres não larga sua bagagem pesada; Se mantém solitário e calmo mesmo frente a visões gloriosas.
Como pode o governante de um império Se conduzir inconsequentemente no mundo? Pela pressa perde-se a raiz; Pela impaciência perde-se a soberania.
Quem bem caminha não deixa rastros; Quem bem fala não precisa se corrigir; Quem bem calcula não precisa de tabela. Uma porta bem fechada não precisa de trancas, mas ninguém consegue abri-la. Uma boa ligação não precisa de nó, mas ninguém consegue desfazê-la.
Assim, o Sábio nutre a todas as pessoas E não rejeita ninguém; Valoriza todas as coisas e situações E não rejeita nenhuma; Isto se chama receber a luz.
Que é um homem bom senão um modelo para o mau? Que é um homem mau senão um incentivo para o bom? Se alguém não reconhece o modelo e nem o incentivo, Perder-se-á, por mais inteligente que seja. Este é o grande segredo.
Usando o masculino, Mas sendo o feminino, Recebe-se o mundo nos braços. Quem recebe o mundo nos braços Nunca se apartará da virtude E torna-se-á recém-nascido.
Usando a clareza, Mas sendo obscuro, Torna-se um exemplo para o mundo. Quem é exemplo para o mundo Nunca desviará da virtude E retornará ao estado supremo.
Usando sua glória, Mas sendo vergonhoso e limitado, Transforma-se num vale para o mundo. Quem é um vale para o mundo, Sua virtude se tornará ampla, E retornará à simplicidade.
É da decomposição da simplicidade Que se cria as diversas ferramentas. Quando o Sábio as utiliza, ele se torna um grande líder. Portanto, "Saiba quando parar de cortar."
Quem sonha em mudar o mundo De acordo com os seus desejos Não será bem-sucedido.
O mundo é sagrado. Ele não pode ser manipulado. Ao tentar mudá-lo, você o danifica; Ao tentar possuí-lo, você o perde.
Pois as coisas: Ora precedem, ora prosseguem; Ora sopram quente, ora sopram frio; Ora se fortalecem, ora fraquejam; Ora florescem, ora se rompem.
Por isso, o Sábio Elimina o excesso, Elimina a opulência, Elimina a complacência.
Se você aconselhar um homem poderoso a respeito do Caminho, Alerte-o para que não utilize violência, Pois a violência tem o hábito de retornar.
Onde acampam exércitos, crescem espinhos e ervas daninhas, E grandes guerras são sempre seguidas por anos de miséria. Faça apenas o necessário. Nunca tire vantagem do poder.
Decisão sem glorificação; Decisão sem ostentação; Decisão sem orgulho; Decisão por falta de outra escolha; Decisão sem violência.
Pois até o maior exército enfraquecerá com o tempo, E então sua violência retornará, e o matará.
Até mesmo as mais belas armas São desprezadas dentre as ferramentas, Pois elas provocam ódio e medo em todos os seres. Portanto quem segue o Caminho não as utiliza.
Um príncipe sábio honra à mão esquerda, Mas em tempos de guerra, à direita.
As armas são instrumentos da violência, Não do Sábio; Ele utiliza-as apenas em última instância, E calmamente, e com tacto, Pois não encontra nelas beleza alguma.
Quem vê beleza nas armas Alegra-se no massacre dos homens; Ele não encontrará a paz.
Massacres devem ser chorados com ais e lamentos; Na vitória militar deve-se agir como em um funeral.
O Caminho eterno não é nomeável. Embora em sua simplicidade pareça pequeno, Ninguém no mundo consegue controlá-lo.
Se príncipes e reis mantivessem-se centrados nele, Seriam naturalmente honrados pelas dez-mil coisas; O Céu e a Terra se uniriam em doce orvalho, E o povo por si mesmo se coordenaria.
Assim que surge a ordem na manifestação, As diferentes partes precisam de nomes. Já há nomes o suficiente. Precisa-se saber quando parar. Saber quando parar impede o surgimento de perigo.
Ilustra-se o papel do Caminho assim: Como os riachos nos vales do mundo, Fluindo rumo aos grandes rios e ao mar.
Quem compreende aos outros é inteligente; Quem compreende a si mesmo é iluminado. Quem conquista aos outros é forte; Quem conquista a si mesmo é invencível.
Quem sabe contentar-se com o que tem é rico. Quem age com energia cultiva uma firme vontade. Quem sabe adaptar-se ao seu ambiente, perdura longamente. Quem morre sem extinguir-se terá vida eterna.
O grande Tao é transbordante; Flui para a esquerda e para a direita. As dez-mil coisas dependem dele, E ele não rejeita nenhuma. Ele cumpre seu propósito em silêncio, Sem apropriar-se de nada.
Ele nutre as dez-mil coisas, Mas não se assenhora delas. Ele não tem desejo algum; Portanto o chamamos de pequeno.
As dez-mil coisas retornam para ele, Mas ele não se assenhora delas. Portanto o chamamos de Grande.
Assim, o Sábio também não considera sua própria grandeza, E por isso é verdadeiramente grande.
Quem se mantém firme no molde do Princípio, O mundo inteiro dirige-se a ele. Dirige-se a ele, mas fica livre de qualquer mal; Encontra lá a mais elevada paz e plenitude.
Músicas e iguarias captam facilmente A atenção de um andarilho Mas palavras sobre o Caminho Parecem monótonas e sem sabor.
Procure-o! É imperceptível; Escute-o! É inaudível; Utilize-o! É inesgotável.
Para reduzir a influência de alguém, primeiro aumente-a; Para enfraquecer alguém, primeiro fortaleça-o; Para destronar alguém, primeiro exalte-o; Para retirar de alguém, primeiro presenteie-o.
Esta é a sutileza pela qual os fracos superam os fortes; Peixes não devem deixar suas profundezas, E espadas não devem deixar suas bainhas.
O Caminho nunca age, Mas nada deixa de ser feito.
Se reis e príncipes governassem dessa maneira, As dez-mil coisas se transformariam por conta própria.
Caso esse processo despertasse antigos desejos, Estes seriam evitados através da simplicidade sem forma.
A simplicidade sem forma é sem desejos. Sem desejos há tranquilidade. Desta forma o mundo inteiro terá plenitude.
Um homem virtuoso não tem ciência da sua virtude, E portanto é virtuoso. Um homem tolo nunca se esquece da sua virtude, E portanto não é virtuoso.
Um homem virtuoso não faz nada E nada deixa de ser feito. Um homem tolo está sempre fazendo algo E sempre sobra algo a se fazer!
A suprema benevolência age sem segundas intenções. A suprema justiça age com segundas intenções. A suprema moralidade age e, quando ninguém responde, estica os braços e impõe a obediência.
Portanto, ao perder-se o Caminho, aparece a virtude; Ao perder-se a virtude, aparece a benevolência; Ao perder-se a benevolência, aparece a justiça; Ao perde-se a justiça, aparece a moralidade.
A moralidade é apenas a casca fina da confiança e da honestidade. É o início do caos. A tradição apenas parece se assemelhar ao Caminho. É o início da ignorância.
Portanto, um homem verdadeiramente grande Permanece com o que é real e não com as aparências; Ele habita no fruto e não na flor; Aceita este e rejeita aquele.
Na antiguidade, estes atingiram a unidade: O Céu atingiu a unidade e pôde ser puro; A Terra atingiu a unidade e pôde ser serena; Os espíritos atingiram a unidade e puderam ser fortes; Os vales atingiram a unidade e puderam ser cheios; As dez-mil coisas atingiram a unidade e puderam ter vida; Os governantes atingiram a unidade e tornaram-se justos. Tudo isto graças à unidade.
Sem pureza, o Céu se romperia; Sem serenidade, a Terra se destruiria; Sem força, os espíritos cessariam; Sem serem cheios, os vales secariam; Sem vida, os dez-mil seres seriam aniquilados; Sem justiça, os governantes tropeçariam e cairiam.
Portanto, O nobre tem o humilde como raiz, O alto tem o baixo como seu fundamento. Por isso que governantes se autodenominam "órfãos, desamparados e indignos." Não é para mostrar que tomam a humildade como base?
Portanto, Quem busca muitas honrarias acaba sem honra. Não queira ser reluzente como o jade, Mas sim firme como a pedra.
O movimento do Caminho é o de retornar-se. A operação do Caminho é o de fraqueza.
Os dez-mil seres sob o Céu nascem do Ser, Mas o Ser nasce do Nada.
Quando uma pessoa superior ouve falar do Caminho, Ela o pratica imediatamente; Quando uma pessoa mediana ouve falar do Caminho, Ela o pratica de vez em quando; Quando uma pessoa tosca ouve falar do Caminho, Ela ri às gargalhadas; Se ela não risse, não seria o Caminho!
Por essa razão se diz: O mais claro Caminho parece obscuro; O avanço no Caminho parece retrocesso; O mais nivelado Caminho parece tortuoso; A mais alta virtude parece um vale; A maior pureza parece desonra; A mais ampla virtude parece insuficiente; A mais forte virtude parece furtiva; A mais sólida realidade parece mudar; O Grande Quadrado não tem cantos; A Grande Obra demora para se completar; O Grande Som quase não se ouve; A Grande Imagem não tem forma.
O Caminho é invisível e sem nome. Mas somente o Caminho é sustentador e traz tudo à completude.
O Tao gera o Um O Um gera o Dois O Dois gera o Três O Três gera os dez-mil seres.
Os dez-mil seres apoiam-se no Yin e abraçam o Yang, Atingindo a harmonia através do sopro (Qi) sutil.
O que as pessoas mais detestam: Serem solitários, carentes e indignos. Mas é exatamente assim que se denominam os reis e principes! Eis que às vezes, subtrair traz benefício; Outras vezes, acrescentar resulta em perda.
Tal como outros ensinaram, também eu ensino: Aqueles que são brutos e violentos não encontram boa morte. Esta é a base do meu ensinamento.
O mais brando supera o mais duro. Aquilo que não tem forma penetra o impenetrável; Eis o valor da não-ação!
Mas o ensinamento sem palavras, O valor da não-ação: Poucos no mundo atingiram esta sabedoria.
O nome ou sua pessoa: o que é mais importante? A pessoa ou sua riqueza: o que se deve valorizar? O lucro ou o prejuízo: o que mais prejudica?
Grande desejo gera grandes despesas, E demasiado acúmulo traz enorme desperdício, Mas o contentamento não custa nada.
Pois quem sabe a hora certa de parar evita o perigo, E por isso perdura longamente.
A suprema perfeição parece incompleta, Mas nunca se danifica; A suprema abundância parece vazia, Mas nunca se esgota.
A suprema verdade parece contraditória; A suprema habilidade parece estabanada; A suprema eloquência parece balbuciar.
O movimento vence o frio. A quietude vence o calor. Transparência e quietude são o padrão do mundo.
Quando uma nação segue o Caminho, Conduzem-se cavalos para estercar; Quando uma nação ignora o Caminho, Cavalos de batalha procriam nos seus campos.
O maior erro é submeter-se ao desejo; O maior desastre é esquecer o contentamento; A maior doença é querer possuir. Mas quem se contenta sabendo o que é suficiente Descobre que o contentamento é duradouro.
Sem dar sequer um passo para fora de casa Pode-se conhecer o mundo inteiro; Sem dar sequer uma espiada pela janela Pode-se conhecer a Tao do Céu.
Quanto mais longe se vai Menos se conhece.
Por isso, o Sábio: Conhece sem viajar, Observa sem ver, Realiza sem agir.
Na busca do conhecimento, todo dia algo se ganha. Na busca do Caminho, todo dia algo se perde.
E perde, e perde, Até chegar-se à não-ação, Onde nada se faz, mas nada permanece sem fazer.
Para conquistar o mundo, não faça nada; Se for necessário fazer alguma coisa, O mundo permanece inconquistável.
O Sábio não tem mente ou coração fixo. A mente e o coração das pessoas comuns, tornam-se sua mente e coração.
Aqueles que são bons, eu os trato com bondade; Aqueles que não são bons, eu igualmente os trato com bondade; Esta é a virtude da bondade.
Aqueles que são confiáveis, eu confio neles; Aqueles que não são confiáveis, eu igualmente confio neles; Esta é a virtude da confiança.
O Sábio vivendo no mundo, Permanece recolhido e indistinto, Com mente e coração mesclado ao do mundo. As pessoas comuns fixam nele seus olhos e ouvidos. Para o Sábio, são todas como crianças.